PROCURA-SE ESPERANÇA DESESPERADAMENTE...
Pra onde foi a minha inspiração? Cadê?
Uma preguiça de acordar.
Uma preguiça de tomar banho, escolher roupa, escolher entre
o bolo de chocolate e suco de laranja.
Tudo parece ter o mesmo gosto falso de paliativos.
De forte somente a preguiça de contar de tantas preguiças.
Da cartilha do sucesso que manda estudar, amar o que se
Da cartilha do sucesso que manda estudar, amar o que se
faz e se relacionar bem, apenas amei. Nem isso faço mais.
Sou péssima aluna.
Tenho a impressão de ter chegado ao topo de uma montanha,
Tenho a impressão de ter chegado ao topo de uma montanha,
mas ela era muito alta e afastada e ninguém me viu.
Em vez de sucesso sinto segundos desejáveis de suicídio,
vontade de pular de lá de cima da montanha com o dedo
desejando um último foda-se ao mundo.
Nem que seja pra fazer barulho e sujar o chão dos
equilibrados. Nem que seja pra fazer falta.
Cadê o gosto intenso de fugir do mundo com um
segredo fatal? Não existem segredos fatais: todo
mundo come todo mundo por caça e infelicidade.
Somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados.
Eu me enganei tanto com o ser humano que ando com
preguiça de me entregar. Ninguém tem coragem pra
mudar nada, ou apenas é inteligente para saber que
rotina chega de um jeito ou de outro, não adianta se mover.
Pra quem faço falta e aonde me encaixo?
Pra quem faço falta e aonde me encaixo?
Aonde sou útil e pra quem sou essencial?
Pra onde vou e aonde descanso? Pra quem e por quem vivo?
Freud mexeu três vezes no túmulo com a vontade de me
dizer que tudo vive por mim.
Dane-se a psicanalise: é muito mais gostoso ter outros
encantamentos, além do umbigo.
Não que esses encantamentos não sejam pra agradar
Não que esses encantamentos não sejam pra agradar
ao meu umbigo. Ok, fiz as pazes com Freud, que deve
achar o egoísta um pouco menos doente que o depressivo.
Ou não, não fiz as pazes com Freud, que acha tudo
farinha do mesmo saco e nem está prestando atenção em mim.
Ele é só mais um a não enxergar o alto da montanha,
mesmo porque ele está embaixo da terra. Incluo Freud
no meu "foda-se o mundo". Que papo é esse?
A esperança desesperada por amor e reconhecimento
profissional deixou escapar a cansada esperança que
se assustou de desespero.
Perdi meu deslumbramento, a válvula propulsora da
Perdi meu deslumbramento, a válvula propulsora da
vida que tive até aqui. Cansei de me encantar pelo difícil.
Que tal um homem e um salário de verdade pra viver
uma vida de verdade? Chega de miséria e sonho.
Chega de idealizar uma vida com um fone de ouvido.
Chega de idealizar uma vida com um fone de ouvido.
Eu quero tocar, eu quero cair das nuvenzinhas acima da minha cabeça.
Junto com meu deslumbramento, perdi boa parte de
quem eu era. Boa parte tão grande que não tenho para onde ir.
Sou uma sem-vida.
Junto com meu deslumbramento, perdi o rumo:
Junto com meu deslumbramento, perdi o rumo:
quem não sonha não sabe aonde quer chegar.
O sonho guia. leva longe. Mas de frustrado ele te faz
retroceder alguns anos, te transforma em criança assustada.
Sei disso quando durmo em posição fetal querendo ser
devolvida ao quente da minha proteção primária.
Freud volta a ser meu amigo.
Minha esperança é que o sonho esteja apenas cansado e
depois de uma boa noite de sono retorne colorido,
musicado e perfumado. Eu disse a minha esperança?
Então eu ainda tenho alguma? Nem tudo está perdido.
Estou deslumbrada com a vida, que te devolve à infância
quando o mundo adulto atropela e fere.
Lá na infância você se enche de sonhos e volta
preparada para o mundo adulto, que se ocupa em
frustrá-los todos novamente. Eu disse que estou deslumbrada?
Não, eu não disse, eu escrevi. Que papo é esse?
Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos
Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos
me resumo equilibrada. Sendo assim, tá na cara e não
tem pane: ando meio mal, mas vou sair dessa.
Tati Bernardi
Tati Bernardi
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