sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PROCURA-SE ESPERANÇA DESESPERADAMENTE...


PROCURA-SE ESPERANÇA DESESPERADAMENTE...

Pra onde foi a minha inspiração? Cadê? 
Uma preguiça de acordar. 
Uma preguiça de tomar banho, escolher roupa, escolher entre 
o bolo de chocolate e suco de laranja. 

Tudo parece ter o mesmo gosto falso de paliativos. 
De forte somente a preguiça de contar de tantas preguiças.
Da cartilha do sucesso que manda estudar, amar o que se 
faz e se relacionar bem, apenas amei. Nem isso faço mais. 
Sou péssima aluna.
Tenho a impressão de ter chegado ao topo de uma montanha, 
mas ela era muito alta e afastada e ninguém me viu.
Em vez de sucesso sinto segundos desejáveis de suicídio, 
vontade de pular de lá de cima da montanha com o dedo 
desejando um último foda-se ao mundo. 
Nem que seja pra fazer barulho e sujar o chão dos 
equilibrados. Nem que seja pra fazer falta.
Cadê o gosto intenso de fugir do mundo com um 
segredo fatal? Não existem segredos fatais: todo 
mundo come todo mundo por caça e infelicidade. 
Somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados. 

Eu me enganei tanto com o ser humano que ando com 
preguiça de me entregar. Ninguém tem coragem pra 
mudar nada, ou apenas é inteligente para saber que 
rotina chega de um jeito ou de outro, não adianta se mover.
Pra quem faço falta e aonde me encaixo? 

Aonde sou útil e pra quem sou essencial? 
Pra onde vou e aonde descanso? Pra quem e por quem vivo? 
Freud mexeu três vezes no túmulo com a vontade de me 
dizer que tudo vive por mim. 

Dane-se a psicanalise: é muito mais gostoso ter outros 
encantamentos, além do umbigo.
Não que esses encantamentos não sejam pra agradar 
ao meu umbigo. Ok, fiz as pazes com Freud, que deve 
achar o egoísta um pouco menos doente que o depressivo.
Ou não, não fiz as pazes com Freud, que acha tudo 
farinha do mesmo saco e nem está prestando atenção em mim. 
Ele é só mais um a não enxergar o alto da montanha, 
mesmo porque ele está embaixo da terra. Incluo Freud 
no meu "foda-se o mundo". Que papo é esse?
A esperança desesperada por amor e reconhecimento 
profissional deixou escapar a cansada esperança que 
se assustou de desespero.
Perdi meu deslumbramento, a válvula propulsora da 
vida que tive até aqui. Cansei de me encantar pelo difícil. 

Que tal um homem e um salário de verdade pra viver 
uma vida de verdade? Chega de miséria e sonho.
Chega de idealizar uma vida com um fone de ouvido. 
Eu quero tocar, eu quero cair das nuvenzinhas acima da minha cabeça.
Junto com meu deslumbramento, perdi boa parte de 
quem eu era. Boa parte tão grande que não tenho para onde ir. 
Sou uma sem-vida.
Junto com meu deslumbramento, perdi o rumo: 
quem não sonha não sabe aonde quer chegar. 

O sonho guia. leva longe. Mas de frustrado ele te faz 
retroceder alguns anos, te transforma em criança assustada. 
Sei disso quando durmo em posição fetal querendo ser 
devolvida ao quente da minha proteção primária. 
Freud volta a ser meu amigo.
Minha esperança é que o sonho esteja apenas cansado e 
depois de uma boa noite de sono retorne colorido, 
musicado e perfumado. Eu disse a minha esperança? 
Então eu ainda tenho alguma? Nem tudo está perdido.
Estou deslumbrada com a vida, que te devolve à infância 
quando o mundo adulto atropela e fere. 
Lá na infância você se enche de sonhos e volta 
preparada para o mundo adulto, que se ocupa em 
frustrá-los todos novamente. Eu disse que estou deslumbrada? 

Não, eu não disse, eu escrevi. Que papo é esse?
Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos 
me resumo equilibrada. Sendo assim, tá na cara e não 
tem pane: ando meio mal, mas vou sair dessa.

Tati Bernardi

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...