segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Viva a alegria



O tédio tem de ser um aborrecimento passageiro. Se a pessoa está permanentemente dominada pelo tédio, isto deixa de ser tédio para ser melancolia grave ou até depressão. O tédio e a rotina são inimigos perversos do homem. Há o tédio da rotina e a rotina do tédio. Só a segunda é uma doença. É preciso ter muita inventividade para driblar tanto o tédio quanto a rotina.

O tedioso é um ser inviável. Ele tanto pode ter tédio por estar desempregado quanto por estar empregado e não satisfeito com seu emprego. Casado ou solteiro, o tedioso terá argumentos contra sua condição. Ele está sempre querendo estar onde não está. Tanto pode odiar a pobreza porque ela o aflige por não poder fazer o que pretendia quanto odeia também a riqueza porque ela lhe impõe o tédio de impedi-lo de ter ambições.

O tédio é filho legítimo do pessimismo. O pessimismo é um dos mais terríveis defeitos ou doenças mentais. Para o pessimista, não há salvação. Quando ele está bem, acha que não vai durar a sua situação. Quando está mal, acha que vai durar infindavelmente a sua situação.

O pessimista confia na infelicidade e desconfia da felicidade. Ele se julga imerecedor da felicidade. Quando o pessimista está feliz, ele pensa que algo de errado está acontecendo. Se a alegria bater na porta do pessimista, ele manda dizer que não está. Se no entanto o sofrimento bater à porta do pessimista, ele se apresenta a ele, manda que entre, sente-se e sinta-se como se estivesse em sua casa.

Se o tédio é filho legítimo do pessimismo, o mau humor é filho legítimo do tédio. Não pode haver pessoa menos capacitada para as relações humanas do que o mal-humorado. Toda a alegria dos circunstantes ao mal-humorado tromba com o mau humor dele. O mal-humorado é mais nocivo no meio social do que o chato. Ainda se convive com um chato, mas não há como tolerar um mal-humorado, até mesmo porque ele se mostra sempre intolerante com os outros.

Quase todos os tipos de agressões verbais ou gestuais nascem do mau humor. Não há nada mais agradável nas relações humanas do que topar com um bem-humorado. Mesmo que ele esteja amargurado, sua conduta sempre se caracteriza pela alegria. É um método inteligente que ele usa para espantar a tristeza. E consegue. O bom humor é o mais valioso dos atributos humanos.

E antes de ser um atributo, o bom humor é um dever: ninguém que seja gregário tem o direito de ser mal-humorado. Por isso, o mal-humorado deve possuir a autocrítica de se tornar sozinho, com a finalidade de não empestar as pessoas que o cercam. A consequência natural do mau humor é a agressividade. A gentileza, o afeto, o amor, todos esses gestos ou sentimentos são incompatíveis com o mau humor.

Os tediosos e os mal-humorados têm de realizar o esforço supremo de alimentarem-se de luz e nutrirem-se de alegria. Isso inicialmente pode ser apenas um drible na sua alegria ou um fingimento. Mas não há outra forma de escapar ao mau humor ou ao tédio do que começar por fingir. E o bom humor, mesmo que fingido, pode depois incorporar-se definitivamente à personalidade, afastando verdadeiramente o tédio.
Alegria, alegria! Alegria é um dever social.

Paulo SantAnna

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